sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Caminhos e Descaminhos que levam à Sonora: experiências, recordações e memórias de migrantes.

Beatriz dos Santos de Oliveira Feitosa*



A compreensão dos conceitos historiográficos são fundamentais para o trabalho de representação do espaço de Sonora a partir da historiografia. Said (2001) em seu “Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente”, aponta que “a análise do texto orientalista, enfatiza a evidência, que de modo algum é invisível, de tais representações como representações, e não como descrições naturais do Oriente” (1990:32).

É necessário ter em vista que o trabalho do historiador não é o de fabricar, produzir um objeto, é muito mais o trabalho da representação por meio da prática de observação, mediada pelo amadurecimento teórico, aliado às práticas dos atores sociais que ocupam aquele espaço, suas vivências, experiências e memórias, juntamente com certas condições materiais que permitiram se organizarem de determinadas formas, trajetórias revividas pelas memórias que trazem à tona e que são ferramentas fundamentais para o trabalho do historiador.

“Em qualquer exemplo, pelo menos da linguagem escrita, não existe nada do gênero de uma presença recebida, mas sim uma re-presença, ou uma representação.” (Said, 1990:33). Neste sentido, as produções no campo da historiografia, são representações de quem escreve, a partir do universo daquele que escreve. Essas são questões que se mantiveram muito presentes na tarefa de reconstruir esse passado de Sonora. A opção teórica por determinados conceitos, sempre tendo em vista um universo de possibilidades que normalmente são negligenciados, muito pela problemática do tempo para a realização da pesquisa, mas muito também pela incompatibilidade de determinados conceitos dentro de um projeto de pesquisa que se intentou trabalhar.

Optou-se por alguns conceitos tais como: fronteira, território, desterritorialização, migrações temporárias e identidade para, a partir deles, empreender um trabalho de reflexão histórica que primasse pela compreensão do processo de constituição de Sonora.

Prima-se pela necessidade de adentrar a história como experiência, perceber as práticas de poder que instituem a representação da cidade, buscar por meio da pesquisa dar conta do movimento que produz a cidade. Sonora, fruto da experiência, resultados de deslocamentos, uma cidade que não cabe em cadeias interpretativas é o resultado da experiência de gente, incluída ou não no processo produtivo, o espaço ao mesmo tempo do lugar daquele que fica e do não-lugar daquele que parte a cada ciclo encerrado no corte da cana.

De acordo com Borges (2006) “o não lugar acaba, por sua vez, transformando-se num lugar especial, diferente e com outras características identitárias, desta vez construída por todas as pessoas que fazem a cidade, e não por apenas um segmento, como normalmente acontece nos lugares muito tradicionais”. Há quem afirme ser uma cidade nova, fruto de práticas muito recentes de ocupação capitalista do território, entretanto, para além do fator econômico que motiva a ocupação, esta é o resultado da dinâmica do movimento de pessoas.

Este trabalho é uma oportunidade de compreender a cidade como movimento, visto que “ os lugares amados são os lugares ‘intatos’, e ninguém concorda com esta afirmação com mais veemência do que aqueles que vivem nos lugares ‘estragados’” (Willians, 1989: 341) intentando compreender que a experiência é algo que se produz nessa cidade, com diria Willians já estragada pelo movimento, não como construção de uma realidade, natural, irreversível, mas como prática de representação dessa realidade. E, “considerando não haver prática ou estrutura que não seja produzida pelas representações, contraditórias e em confronto, pelas quais os indivíduos e os grupos dão sentido ao mundo que é o deles” (Chartier, 1991), é que se torna possível compreender a dinâmica da ocupação de Sonora, a “Princesinha do Norte”.

No tocante à compreensão sobre fronteiras utilizamos os estudos de Waibel, para quem a questão é se ainda “temos tais zonas pioneiras no Brasil e, em caso afirmativo, onde estão localizadas [...] o que exige uma melhor definição dos conceitos de frontier e pionner” (1979: 281).

De grande relevância ainda para o presente estudo foi a obra de Martins (1997), para quem o termo fronteira, no Brasil, é tratado de forma particular por geógrafos e antropólogos. Para os primeiros, como um termo que designa uma zona pioneira ou uma frente pioneira. Os segundos, sobretudo a partir dos anos cinqüenta, definiram essas frentes de deslocamento da população civilizada e das atividades econômicas de algum modo reguladas pelo mercado, como frentes de expansão.

A designação de frentes de expansão formulada por Darcy Ribeiro, como “fronteiras de civilização”, tornou-se uso corrente até mesmo entre antropólogos, sociólogos e historiadores que não estavam trabalhando propriamente com situações de fronteira da civilização. Ela expressa a concepção de ocupação do espaço de quem tem como referência as populações indígenas, enquanto a concepção de frente pioneira não leva em conta os índios e tem como referência o empresário, o fazendeiro, o comerciante e o pequeno agricultor moderno e empreendedor (Martins, 1997).

Tais definições parecem apontar que a concepção dos antropólogos sobre a expansão é mais ampla, pois incorpora os índios, desconsiderados por um grupo de estudiosos.

Pierre Monbeig define os índios alcançados (e massacrados) pela frente pioneira no oeste de São Paulo como precursores dessa mesma frente, como se estivessem ali transitoriamente à espera da civilização que acabaria com eles. A ênfase original de suas análises estava no reconhecimento das mudanças radicais na paisagem pela construção de ferrovias, das cidades, pela difusão da agricultura comercial em grande escala, como o café e o algodão.

A partir da reflexão dos conceitos de fronteira, zonas pioneiras e zonas de expansão dos autores supramencionados, Martins (1997) se sente à vontade para fazer uma primeira datação histórica: adiante da fronteira demográfica ou da “civilização”, estão as populações indígenas que sofrem as conseqüências dos processos de expansão. Entre a fronteira demográfica e a fronteira econômica está a frente de expansão, isto é, a frente da população não incluída na fronteira econômica. Atrás da linha da fronteira econômica está a frente pioneira, dominada não só pelos agentes da civilização, mas, também, pelos agentes da modernização que se constituem em agentes da economia capitalista que vai além da economia de mercado. São agentes de mentalidade inovadora, urbana e empreendedora (Martins, 1997).

Ao que tudo indica essa mentalidade esteve presente entre os agentes de colonização da região estudada, assunto que exigirá uma atividade intelectual de maior profundidade e que por ora são caminhos pelos quais ainda dou os primeiros passos.

A mão-de-obra que fixou residência no núcleo urbano de Sonora, popularmente conhecida como “Princesinha do Norte” , desempenhava funções totalmente voltadas às atividades agrícolas, e foi justamente o trabalho na lavoura que contribuiu para atrair mais migrantes o que resultou em relativa expansão populacional. Segundo informações obtidas em pesquisa de campo foi possível constatar as dificuldades iniciais que se colocavam ao trabalhador que se fixou nessa região a partir dos anos de 1970.

“No princípio foi muito ruim porque daqui onde nóis trabalhava dava, mais de 40 Km(...), aí moço nóis ia cedo de madrugada, quando dava 04 horas eu levantava, pegava um trator subia a turma dentro numa carreta da roda dura, nóis ai pra lá, quando era de tarde a gente carregava a carreta de madeira e vinha. (...) mais era uma vida sufrida, que eu nunca vi daquele jeito, cedo de madrugada pra lá e de noite pra cá, um frio. (...) Um dia eu disse, essa vida nossa num ta dano não chegá em casa todo arrebentado por dentro.”

Le Goff (1994:143) no tocante ao trabalho com as fontes orais e com depoimento como os supramencionados, afirma que “nenhum documento é inocente. Deve ser analisado. Todo documento é um monumento que deve ser desestruturado, desmontado. O historiador não deve ser apenas capaz de discernir o que é “falso” , avaliar a credibilidade do documento, mas também desmistificá-los. “Os documentos só passam a ser fontes históricas depois de estar sujeitos a tratamentos destinados a transformar sua função de mentira em confissão de verdade”. É desta forma que me disponho a trabalhar com as fontes orais em minha caminhada de pesquisa histórica.

Segundo dados coletados na pesquisa de campo, constatou-se a ação de empreiteiros encarregados de trazer trabalhadores de outras regiões para o trabalho no corte de cana durante o período de safra. No decorrer da entrevista com o presidente do sindicato dos trabalhadores rurais do município o trabalho era contratado por “gatos”. Quando solicitado para que falasse mais a respeito do trabalho das empreiteiras foi obtido a seguinte resposta:

“... empreiteira, a gente fala assim empreiteira, pra não maltratar muito sabe, porque na verdade é gato mesmo, o famoso gato. Então o gato é o seguinte: o que acontece? Quando o trabalhador ganha 10 reais, por exemplo, o gato ganha 20 em cima do trabalho do trabalhador...”



Thompson (1992) considera que “a História Oral pode certamente ser um meio de transformar tanto o conteúdo quanto a finalidade da História. Pode ser utilizada para alterar o enfoque da própria História e revelar novos campos de investigação (...) pode devolver às pessoas que fizeram e vivenciaram a História um lugar fundamental, mediante suas próprias palavras”. A entrevista com o presidente do sindicato dos trabalhadores rurais é elucidativo da existência desse lugar na história que as pessoas atribuem a si próprias. Halbwachs (1990) discute na obra “Memória Coletiva”, a questão de buscarmos fundamentar questões que já conhecemos por meio do depoimento de outras pessoas, afirma que:

“fazemos apelo aos testemunhos para fortalecer ou debilitar, mas também para completar o que sabemos de um evento do qual já estamos informados de alguma forma, embora muitas circunstâncias nos pareçam obscuras. (...) Ora, a primeira testemunha, à qual podemos sempre apelar, é a nós próprios. (...) Se o que vemos hoje tivesse que tomar lugar dentro do quadro de nossas lembranças antigas, inversamente essas lembranças se adaptariam ao conjunto de nossas percepções atuais. Tudo se passa como se confrontássemos vários depoimentos”.

Para Bauman (2005) “a metodologia utilizada para abordar um assunto busca acima de tudo “revelar” a miríade de conexões entre o objeto da investigação e outras manifestações da vida na sociedade humana”. São essa conexões que tenho buscado fazer em relação ao estudo da região do Vale do Correntes, onde está localizado o município de Sonora no extremo norte do estado de Mato Grosso do Sul. No intuito de compreender os “ Caminhos e os Descaminhos que Conduzem à Sonora” bem como as políticas de incentivo ao processo de ocupação do extremo norte do estado de Mato Grosso do Sul a partir de 1970”, busco entender as questões concernentes ao incentivo governamental na forma de créditos subsidiados que possibilitaram a colonização privada na região do Vale do Correntes, onde atualmente está localizado o município de Sonora ao norte do estado de Mato Grosso do Sul, procuro entender ainda a dinâmica da fronteira que levou à formação daquele espaço, bem como a questão de territorialização, desterritorialização e concepções de identidade com base em autores que trabalham com questões concernentes a Territórios e Fronteiras.

A formação daquele território e das identidades ou do embate entre essas identidades que se encontram ali presentes parecem fazer parte de um quadro geral da sociedade brasileira dos anos de 1970 é o que aponta o jornal “Defesa” no ano de 1975.

“O norte do Mato Grosso começa a repetir a tristemente conhecida história da colonização do norte do Paraná , onde a luta pela terra, com o sacrifício físico e sanguinolento dos contendores era lugar comum.

Aqui também, já é comum a luta fratricida por plano de terra. Veja-se a estatística criminal e constate-se que 60% dos crimes ocorridos no norte do estado são oriundo de questões de terras.”

O artigo do jornal Defesa, de 1975 aponta para a questão da formação do território brasileiro e a violência que a constituição desse território teria gerado, isso pode indicar que os embates teriam levado ao fato de que uma parte da população teria tido acesso a esse território enquanto outra parcela desta população teria sido desterritorializada, não nos cabe nos limites do presente texto discutir as questões de formação de propriedades, em que bases e mediante quais métodos, o que interessa nos limites desta produção diz respeito a uma questão de operacionalização de conceitos e ao tratar da questão da desterritorialização, não poderia deixar de citar HAESBAERT (2006), para quem “o mito da desterritorialização é o mito dos que imaginam que o homem pode viver sem território, que a sociedade pode existir sem territorialidade, como se o movimento de destruição de territórios não fosse sempre, de algum modo, sua reconstrução em novas bases (HAESBAERT:2005)”.

O termo desterritorialização é novo, entretanto os argumentos utilizados em torno dessa questão não são inéditos como aponta HAESBAERT (2005), ao afirmar que “muitas posições de Marx em “O Capital” e no “Manifesto Comunista”revelavam claramente uma preocupação com a “desterritorialização”capitalista, seja a do camponês expropriado, transformado em “trabalhador livre”, e seu êxodo para as cidades, seja a do burguês mergulhado numa vida em constante movimento e transformação, onde “tudo que é sólido desmancha no ar”na famosa expressão popularizada por BERMAN (1986)”.

Parece-me que a obra de BAUMAN (2005) caminha de um pólo à outro das concepções apontadas por Haesbaert, visto que para ele ao mesmo tempo que considera “a questão da identidade como estando ligada ao colapso do Estado de bem-estar social e ao posterior crescimento da sensação de insegurança, com a “corrosão do caráter” que a insegurança e a flexibilidade no local de trabalho têm provocado na sociedade”. Considera também a identidade “como algo revelado a ser inventado, e não descoberto”. Em suma, o discurso que procura estabelecer uma identidade é claramente ideológico, defende interesses que não são necessariamente legítimos.

Enquanto para Haesbaert a desterritorialização é um mito e o que existe na verdade são territórios múltiplos, Bauman fala da existência de desterritorializados “num mundo de soberania territorialmente assentada. Ao mesmo tempo que compartilham a situação de subclasse, eles, acima de todas as privações, têm negado o direito à presença física dentro de um território sob lei soberana, exceto em “não-lugares” especialmente planejados, denominados campos para refugiados ou pessoas em busca de asilo a fim de distingui-los do espaço em que os outros, as pessoas “normais”, “perfeitas”, vivem e se movimenta”.

Ao finalizar este texto compartilho com o leitor, algumas reflexões e analogias que considero possíveis em relação à questão do “não-lugar”, penso que os barracões e alojamentos criados especificamente para os trabalhadores do corte de cana-de-açúcar, em regiões como a do Vale do Correntes, por exemplo, podem ser entendidos como “não-lugares”, pois é o espaço, onde o trabalhador, desterritorializado de seu lugar de origem e sofrendo os efeitos de uma fragmentação da sua identidade e, em alguns casos até mesmo a perda desta, momentos em que chegam à condição de verdadeiros lixos humanos, habitando a tênue fronteira que os separa da condição de seres humanos, os barracões são espaços de uma vida em suspense, à espera sempre do momento de retorno para os locais de origem onde, em geral o que aguarda a maioria desses trabalhadores é uma situação de marginalização social e pobreza. Destaca-se o fato de que a geração que nasceu nos anos de 1970, está sofrendo os efeitos da formação do mundo contemporâneo, especialmente dos anos de 1990, momento em que as pessoas deixam de ser desempregadas e se tornam “redundantes”, ou seja, passam a não ter mais espaço e conforme as palavras de BAUMAN (2005), passam a ser refugo, lixo. A trajetória dos referidos trabalhadores é marcante, visto que o limite entre exclusão e inclusão é muito tênue.



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA



BAUMAN, Zygmunt. “Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi”. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005

BAUMAN, Zygmunt. “Vidas desperdiçadas”. Tradução de Carlos Aberto Medeiros. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2005.

BERMAN, Marshall. “Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade”. Trad. de Carlos Felipe Moisés e Ana Maria L. Ioriatti. São Paulo: Cia. das Letras, 1986.

FIGUEIRA, Ricardo Rezende. “Pisando Fora da Própria Sombra: a escravidão por dívida no Brasil contemporâneo.” Rio de Janeiro: civilização brasileira, 2004.

HAERBAERT, Rogério. “O Mito da Desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. 2. Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

HALBWACHS, Maurice. “ Memória Coletiva” .São Paulo: Vértice, 1990.

LE GOFF. Jacques. “ História e Memória”. São Paulo: editora da UNICAMP, 1994.

MARTINS, José de Souza. “Fronteira: a degradação do outro nos confins do humano”.São Paulo: Hucitec, 1997.

MONBEIG, Pierre. Os pioneiros. In: Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. São Paulo: Hucitec-Polis, 1984.

SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Tradução de Tomás Rosa Bueno. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

THOMPSON, Edward P. “ A Voz do Passado: História Oral”.Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

WAIBEL, Léo. As zonas pioneiras do Brasil. In: “Capítulos de geografia tropical e do Brasil”. 2ª Ed., Rio de janeiro: FIBGE, 1979.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Escravidão por dívida na contemporaneidade

O texto a seguir é um fragmento do livro "Gente Descartável", autoria de Kevin Bales, aponta para uma problemática acerca da qual é fundamental que tomemos conhecimento e nos coloquemos contra, da forma que nos for possível, debatendo a respeito, denunciando. É inconcebível que ainda hoje os casos de exploração humana apontados pelo autor sejam realidade na vida de tantas pessoas.


Kevin Bales


Gente descartável

Lisboa, Editorial Caminho, 2001

(excertos adaptados)



A nova escravatura



No Verão, os campos franceses vivem à altura da sua reputação. Se nos sentamos na rua de uma pequena aldeia a uma centena de quilómetros de Paris, a brisa traz-nos o aroma de maçãs do pomar ao lado. Vim aqui para conhecer Seba, (os foram mudados) uma escrava recentemente liberta. É uma jovem de vinte e dois anos, bonita e animada, mas enquanto me conta a sua história retrai-se em si mesma, fumando furiosamente, tremendo, e depois vêm as lágrimas.



Fui criada pela minha avó no Mali, e quando em ainda menina uma mulher que a minha família conhecia chegou e perguntou-lhe se podia levar-me para Paris para cuidar dos filhos dela. Ela disse à minha avó que me punha na escola e que eu aprenderia francês. Mas quando cheguei a Paris não fui mandada para a escola, tive que trabalhar todos os dias. Fazia todo o trabalho na casa deles; fazia as limpezas, cozinhava as refeições, cuidava das crianças, e lavava e alimentava o bebé. Todos os dias começava antes da 7 horas da manhã e acabava às 11 da noite; nunca tive um dia de folga. A minha patroa não fazia nada; dormia até tarde e depois via televisão ou saía.

Um dia eu disse-lhe que queria ir à escola. Respondeu que não me tinha trazido para França para ir à escola mas para cuidar dos filhos dela. Eu estava cansada e esgotada. Tinha problemas com os dentes; por vezes a cara inchava-me e a dor era horrível. Por vezes tinha dores de estômago, mas quando estava doente tinha que trabalhar na mesma. Às vezes, quando tinha dores, chorava, mas a minha patroa gritava comigo. Eu dormia no chão num dos quartos das crianças; a minha comida eram os restos deles. Não podia tirar comida do frigorífico como as crianças. Se eu tirasse comida, ela batia-me. Balia-me muitas vezes. Estava sempre a dar-me bofetadas. Batia-me com a vassoura, com os instrumentos de cozinha, ou chicoteava-me com cabos eléctricos. Às vezes eu sangrava; ainda tenho marcas no corpo.

Uma vez, em 1992, atrasei-me a ir buscar as crianças à escola; a minha patroa e o marido ficaram furiosos comigo e bateram-me e depois empurraram-me para a rua. Eu não tinha para onde ir; não compreendia nada, e andei pelas ruas. Ao fim de algum tempo o marido encontrou-me e levou-me outra vez para casa deles. Ali despiram-me toda, ataram-me as mãos atrás das costas, e começaram a chicotear-me com um arame amarrado a um pau de vassoura. Batiam-me os dois ao mesmo tempo. Eu sangrava muito e gritava, mas eles continuavam a bater-me. Depois ela esfregou malaguetas nas minhas feridas e enfiou-mas na vagina. Perdi os sentidos.

Algum tempo depois, uma das crianças desatou-me. Fiquei deitada no chão, onde me deixaram vários dias. As dores eram horríveis mas ninguém tratou as minhas feridas. Quando me consegui levantar tive que trabalhar outra vez, mas depois disso fiquei sempre fechada em casa. Eles continuaram a bater-me.



Seba foi finalmente libertada quando um vizinho, depois de ouvir os sons dos insultos e espancamentos, conseguiu falar com ela. Vendo-lhe as cicatrizes e as feridas, o vizinho chamou a polícia e o Comité Francês contra a Escravatura Moderna (CCEM), que abriram um processo e tomaram Seba a seu cuidado. Os exames médicos confirmaram que ela tinha sido torturada.

Hoje Seba está bem tratada, vive com uma família de acolhimento. Está a receber assistência e a aprender a ler e a escrever. A recuperação demorará anos, mas ela é uma jovem notavelmente forte. O que me impressionou foi a distância que Seba ainda tem que percorrer. Enquanto falávamos, compreendi que, embora ela tivesse vinte e dois anos e fosse inteligente, a sua compreensão do mundo era menos desenvolvida que a média das crianças de cinco anos. Por exemplo, até ser libertada tinha pouca noção do tempo — sem conhecimento das semanas, meses ou anos. Para Seba havia apenas a interminável roda do trabalho e do sono. Sabia que havia dias quentes e dias frios, mas nunca aprendeu que as estações seguem um padrão. Se alguma vez soube o dia do seu aniversário tinha-o esquecido, e não sabia a sua idade. Fica desorientada com a ideia de «escolha». A sua família de acolhimento tenta ajudá-la a fazer opções, mas ela ainda não consegue entender isso.

Se o caso de Seba fosse único, seria bastante chocante; mas Seba é uma de entre talvez 3000 escravos domésticos em Paris. Essa escravatura não existe também só em Paris. Em Londres, Nova Iorque, Zurique, Los Angeles, e pelo mundo fora, as crianças são brutalizadas como escravos domésticos. E são apenas um pequeno grupo dos escravos do mundo.

A escravatura não é um horror definitivamente arrumado no passado; ela continua a existir em todo o mundo, mesmo em países desenvolvidos como a França e os Estados Unidos. Por todo o mundo os escravos trabalham e suam e constroem e sofrem. Os escravos no Paquistão podem ter fabricado os sapatos que nós calçamos e o tapete que pisamos. Os escravos das Caraíbas podem ter posto o açúcar na nossa cozinha e os brinquedos nas mãos dos nossos filhos. Na Índia, eles podem ter cosido a camisa que vestimos e polido o anel do nosso dedo. E não lhes pagam nada.

Os escravos tocam também indirectamente as nossas vidas. Eles fizeram os tijolos para a fábrica que produziu o aparelho de TV que nós vemos. No Brasil, os escravos produziram o carvão que temperou o aço que fez as molas do nosso carro e a lâmina do cortador de relva. Os escravos cultivaram o arroz que alimentou as mulheres que teceram o belo pano que você usa nos cortinados. A sua carteira de investimentos e o seu fundo mútuo de pensões possuem títulos de empresas que utilizam trabalho escravo no mundo em vias de desenvolvimento. Os escravos mantêm baixos os seus custos e altos os lucros dos seus investimentos.

A escravatura é um negócio em ascensão e o número de escravos está a crescer. Há pessoas que enriquecem usando escravos. E quando já não precisam dos seus escravos, limitam-se a pôr essas pessoas de parte. Esta é a nova escravatura, que se centra nos grandes lucros e nas vidas baratas. Não se trata de possuir pessoas no sentido tradicional da antiga escravatura, mas de controlá-las completamente. As pessoas tornam-se instrumentos completamente descartáveis para fazer dinheiro.

Mais de dez vezes ao acordar de manhã cedo descobri o corpo de uma jovem flutuando na água ao pé da lancha. Ninguém se preocupava em enterrar as raparigas. Lançavam simplesmente os corpos ao rio para serem comidos pelos peixes.

Este era o destino das jovens escravizadas como prostitutas nas cidades mineiras da Amazónia, explicou Antónia Pinto, que ali trabalhou como cozinheira e alcoviteira. Ao mesmo tempo, o mundo desenvolvido deplora a destruição das florestas tropicais, poucas pessoas compreendem que o trabalho escravo é utilizado para as destruir. Os homens são atraídos para a região com promessas de riqueza em pó de ouro, e raparigas de apenas onze anos recebem ofertas de emprego nos escritórios e restaurantes que servem as minas. Quando chegam às longínquas regiões mineiras, os homens são aprisionados e forçados a trabalhar nas minas; as raparigas são espancadas, violadas, e postas a trabalhar como prostitutas. Os seus «agentes de recrutamento» recebem uma pequena soma por cada uma delas, talvez uns 150 dólares. As «recrutas» tornaram-se escravas — não através da posse legal, mas através da autoridade decisiva da violência. A polícia local actua como reforço para controlar os escravos. Como uma jovem explicava: «Aqui os donos de bordéis mandam a polícia bater-nos… se fugimos, eles perseguem-nos, se nos acham matam-nos, ou se não nos matam batem-nos todo o caminho de volta ao bordel.»

Os bordéis são incrivelmente lucrativos. A rapariga que «custa» 150 dólares pode ser vendida para sexo até dez vezes por noite e render 10 000 dólares por mês. As únicas despesas são os pagamentos à polícia e uma bagatela para comida. Se uma rapariga causa problemas, foge ou adoece, é fácil livrar-se dela e substituí-la. Antónia Pinto descreveu o que aconteceu a uma menina de onze anos que se recusou a fazer sexo com um mineiro: «Depois de decapitá-la com o machete, o mineiro circulou na sua lancha rápida, exibindo-a para os outros mineiros, que aplaudiam e gritavam aprovadoramente.»

Como a história destas raparigas mostra, a escravatura, ao contrário do que a maioria de nós foi levada a crer, não acabou. Certamente, a palavra escravatura continua a ser usada para significar toda a espécie de coisas, e demasiadas vezes tem sido aplicada como uma metáfora fácil. Ter dinheiro apenas para sobreviver, receber salários que mal dão para viver, pode chamar-se um salário de escravo, mas não é escravatura. Os meeiros têm uma vida difícil, mas não são escravos. O trabalho infantil é horrível, mas não é necessariamente escravatura.

Podíamos pensar que a escravatura é uma questão de posse, mas isso depende daquilo que entendemos por posse. No passado, a escravatura implicava que uma pessoa possuía legalmente outra pessoa, mas a escravatura moderna é diferente. Hoje, a escravatura é ilegal em toda a parte, e já não há posse legal de seres humanos. Quando as pessoas compram escravos hoje não pedem um recibo nem títulos de propriedade, mas adquirem o controlo — e usam a violência para manter esse controlo. Os escravocratas («Slaveholder» no original. (N. do E.) têm todos os benefícios da propriedade sem as responsabilidades legais. Na verdade, para os escravocratas, não ter a posse legal é uma melhoria, porque obtêm o controlo total sem qualquer responsabilidade por aquilo que possuem.

A despeito desta diferença entre a velha e a nova escravatura, penso que toda a gente concordaria em que aquilo de que falo é escravatura: o controlo total de uma pessoa por outra com fins de exploração económica. A escravatura moderna esconde-se por trás de diferentes máscaras, usando advogados espertos e cortinas de fumo legais, mas quando se arrancam as mentiras, descobrimos alguém controlado pela violência, e a quem é negada toda a liberdade pessoal, para fazer dinheiro para outra pessoa. Ao viajar pelo mundo para estudar a nova escravatura, olhei para lá das máscaras legais e vi pessoas acorrentadas. É claro, muitas pessoas pensam que já não existe uma coisa como a escravatura, e eu era uma dessas pessoas ainda há poucos anos.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dia do Professor, não é para comemorar é para pensar e debater a respeito

KEKA WERNECK - Dia do professor, um super-herói oprimido.

Dia do Professor, um super-herói oprimido
Data suscita reflexões sobre prática da docência e o que o Brasil quer dessa categoria

Por Keka Werneck, da Assessoria de Imprensa do Centro Burnier Fé e Justiça


Quem é esse profissional que, sob pressão, assume, em sua rotina, a responsabilidade de levar a sociedade brasileira à frente de seu tempo?
É possível cumprir esse grandioso papel sendo oprimido pelo sistema?
Observando o perfil dos professores e professoras da rede pública de ensino em Mato Grosso, dá para notar de imediato que a maioria nessa área é mulher (18.028). O número de homens é três vezes inferior (5.439).
A maioria dos efetivos tem entre 41 e 50 anos (48,50%), ou seja, está envelhecendo. Entre os interinos (contratados), pelo contrário, a maioria é jovem de 18 a 30 anos (70,53%).
Para lecionar em escolas estaduais, o professor entra na carreira já recebendo o piso de R$ 1.135, por 30 horas, mas boa parte dos que lecionam nas redes municipais ganha bem menos que isso.
A maioria parte cumpre duas ou três jornadas de trabalho, para dar conta de pagar suas contas e sobreviver. Muitos dobram na rede pública e particular.
Acontece que a história não é feita somente pela maioria. Há uma diversidade enorme a ser considerada para compreender essa classe, que quer mais do que elogios da opinião pública.
Começa daí a complexidade dessa atividade feita por gente de todo jeito, que aglutina mais de 30 mil trabalhadores em Mato Grosso, entre mulheres, homens e pessoas de outras orientações sexuais, brancos, pretos e de demais descendências e etnias, jovens e maduros, com formação adequada ou não. É uma salada ideológica.
São muitos os assuntos que a data suscita, para além do salário. É preciso discutir o preocupante viés do gradativo adoecimento do professor em sala de aula. O cansaço físico e mental é um dos problemas mais apontados pela categoria, de quem é cobrada postura heróica, de salva-pátria.
Na rede privada, assusta o assédio moral, praticado pelas diretorias e também pelos alunos. Além disso, não há um projeto claro de formação continuada e muito menos de gestão democrática.
Em meio a essas complexidades, ao menos uma resposta é simples de dar: Não! Nessas condições não é possível alavancar a sociedade com a urgência do apelo que ela faz. O professor pode, no entanto, contribuir com avanços, já que a docência é uma profissão que envolve – ou deve envolver - paixão, esforço, entrega, solidariedade e senso de nação.
“A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. (Paulo Freire)

Angústias

A professora Régia Cristina kottel, 39 anos, formou-se em Letras, pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Lecionar é seu projeto de vida. Em 2002, passou em concurso público, se efetivando na docência. Na prática, esse sonho se transforma em pesadelo, quando percebe essa insistente cobrança da sociedade. “Isso me angustia tanto. É tudo encima da gente. É mesmo muita cobrança e, por outro lado, o que temos em troca é desvalorização. Isso deixa a gente lá embaixo. Na escola estamos reféns desses sentimentos, não temos autonomia”, reclama.
“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas”. (Rubem Alves)
O historiador Robinson Ciréia, 33, que leciona, como interino, em duas das maiores escolas públicas de Mato Grosso, que é o Liceu Cuiabano e a Escola Estadual Nilo Póvoas, critica o discurso que centraliza na educação a resolução de todos os problemas sociais. Sobretudo aquele que enxerga somente a relação entre o professor e o aluno. “Educação é algo muito maior do que isso. Tem o pai e a mãe envolvidos. Tem o Governo e a sociedade. Então, na verdade, vários fatores interferem na educação de um povo”, explica. Segundo ele, o professor sozinho, nessa relação com o aluno, contribui, mas não resolve o mundo.
Na sala de aula, todas as questões sociais aparecem, porque há diversidade entre os alunos e os docentes. “Então, é difícil mudar essa juventude que já chega na escola carregada de cultura”. Ciréia cita, por exemplo, que alguns pais vendem o voto e o aluno leva esse tipo de pensamento para a sala de aula. “No meio disso, o que agonia o professor é querer dar conta de tudo. Não dá. O que ele deve fazer, na minha opinião, é respeitar a diversidade, combater idéias preconceituosas e trabalhar para criar consciência crítica nos alunos”. Para Ciréia, isso em si já é bastante trabalhoso.

Bandeiras de luta

Se a sociedade quer, de fato, valorizar o professor, a categoria sabe indicar como. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep/MT), professor Gilmar Soares, aponta as quatro principais bandeiras de luta: plano de carreira, salário, formação continuada e gestão democrática. Essas bandeiras, juntas, fortalecem a luta central que é a valorização profissional.


“Sem essas conquistas, o terreno fica fértil para as dificuldades no exercício da profissão”, diz o sindicalista.
Sem um salário digno, a tendência é a busca pela dupla ou tripla jornada. “Se o professor estiver trabalhando em vários lugares, não dá conta de se envolver com a escola e é por isso que o Sintep defende a dedicação exclusiva”, explica Gilmar, reconhecendo, no entanto, que, para sobreviver, hoje fica difícil romper com este comportamento.
O piso na rede estadual de Mato Grosso é R$ 1.135, por 30 horas, sendo 10 de hora atividade, o que o coloca entre os quatro melhores do país. Mas nem toda a classe é contemplada.
* Hora atividade é o tempo que o professor usa para preparar as aulas e outras atividades pedagógicas.
Nas redes municipais, o salário geralmente é menor que o piso estadual.
O salário de Regina Kottel, por exemplo, é R$ 787. Ela leciona na Escola Municipal Edson Ferreira de Carvalho, em Nova Canãa do Norte, a 696 quilômetros de Cuiabá. “Na nossa campanha salarial, foi o máximo que conseguimos aproximar do piso estadual”, lamenta.
A luta nacional é para que o piso do professor chegue a 1.312, sem levar em consideração regionalidades. O entendimento é que, querendo um professorado capaz de arcar com a responsabilidade diária, nenhum deve receber menos que isso.
Gilmar acredita que a rede pública orienta o mercado de modo geral, pedagogicamente e do ponto de vista salarial também.
O que se faz no ensino público de alguma forma reflete no particular.
Há, porém, diferença de realidades.
No ensino privado, professores, de modo geral, recebem menores salários, sofrem mais com assédio moral e não têm estabilidade. Por outro lado, trabalham, em geral, em ambiente mais equipados, salas climatizadas e com acesso a computadores.
Isso, porém, não é alento, lembrando ainda que muitas escolas particulares também têm infraestrutura precária.
“São muitos os problemas no setor privado”. É o que diz a professora Nara Teixeira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino de Mato Grosso (Sintrae-MT). Segundo ela, há escolas que pagam bem, mas em geral o salário ainda é inferior ao piso do Estado.
O ensino privado divide a categoria assim. Quem leciona para a Educação Infantil está na base da pirâmide, com R$ 7,89 por hora-aula. No topo, professores do Ensino Médio, que recebem R$ 12,20. Esses valores são orientados pelo Sintrae, conforme acordo coletivo em vigor. Mas isso também não se aplica em toda a base. E o pior, no setor privado os professores não têm hora atividade. Por 30 horas em sala de aula, o piso é R$ 1.228.
Jornadas duplas e triplas também são muito comuns. Por isso, os professores da rede privada lutam para unificar o calendário de férias, caso contrário, nunca conseguem descansar por 30 dias.
O assédio moral é uma constante. Há muitas denúncias registradas no Sintrae. “Já aconteceu comigo. Ninguém me contou. O aluno mandou que eu falasse sobre outras coisas, porque ele está me pagando”, conta Nara. “De outra vez, você pede silêncio ou atenção e o aluno manda você ir tomar no c...Quer dizer, os alunos filhos da burguesia também levam para a sala de aula outros problemas sociais e isso também faz da nossa profissão muito extenuante.”



A lógica de mercado é que permite tal ataque ao professor. É a escola assumindo a posição de uma empresa qualquer, tendo que agradar ao cliente. “Educação não é mercadoria. Para entrar nesse ramo, é preciso entender o papel social de educar”, diz Nara.
No ensino particular, muitos reclamam da falta de liberdade em sala de aula. Outros garantem que precisam bater meta, ou seja, passar o maior número de alunos possível. A reprovação pode ser ruim para a imagem da escola-empresa. “Isso é uma afronta à educação”, reage a sindicalista.
Pesquisas também apontam para o adoecimento de professores que lecionam em escolas particulares. “Eles ficam muito tempo em pé. Há superlotação das salas. Algumas têm até 50 alunos. Imagine falar para esse público, muitas vezes sem o devido equipamento. Mas a depressão e a LER (Lesão por Esforço Repetitivo) são as enfermidades mais constantes”, diz Nara.

Gestão democrática

O ideário sobre gestão democrática na escola vem justamente para aliviar os ombros dos professores, dando responsabilidades a toda a comunidade escolar na construção do ensino. Seria a vivência em debates, estabelecidos em espaços como conselhos deliberativos, formados pela direção, por docentes, funcionários, alunos, pais e lideranças da comunidade.
Para o professor Robinson Ciréia isso não ocorre por uma série de questões. “O que vejo acontecer são imposições da secretaria e a falta de entendimento do que seja uma gestão democrática”. Na visão dele, a direção da escola pode até estar inclinada a ser mais democrática, porém isso exige trabalho de mobilização e tempo disponível. No entanto, todos estão sobrecarregados de trabalho, quase sempre. O modelo produtivista imposto rouba tempo e impede que o modelo democrático se viabilize.
"Se começássemos a dizer claramente que a democracia é uma piada, um engano, uma fachada, uma falácia e uma mentira, talvez pudéssemos nos entender melhor." (José Saramago)
No setor privado, segundo Nara Teixeira, gestão democrática é coisa que não existe. Quem manda é a direção. Democratizar as relações é assunto que ainda não está pautado.

Problemas em sala de aula

A indisciplina e a falta de limites incomodam a professora Régia Kottel em sala de aula. Segundo ela, no dia a dia, aluno que não para de falar, que não tem atenção no assunto, que reage com falta de respeito e que rejeita o não como resposta cansa demais. Somando isso à questão do número excessivo de alunos por turma, a rotina do professor pode virar um caos. “No interior acredito que a situação seja mais calma”, diz ela, que mora em Nova Canãa. “Mas, mesmo assim, é uma carga muito pesada. Imagina lidar com mais de 29 adolescentes de uma só vez, sem algumas regras?”.
Por outro lado, alunos apáticos e facilmente domesticáveis, sem iniciativa e intelectualmente frágeis é que incomoda o professor Salvador Flávio Pereira da Silva, 47 anos, geógrafo. Salvador está se especializando em Psicopedagogia. Ele leciona do 7º ao 9º ano na Escola Municipal Dejane Ribeiro, no bairro Jardim Vitória, periferia de Cuiabá. No entanto, lida bem com a agressividade, que poderia ser um problema óbvio para o senso comum, por se tratar de uma unidade escolar periférica. “Adolescentes têm essa – digamos – agressividade mesmo. Isso é tranquilo, precisam ser compreendidos. O que me chateia é ver esses meninos e meninas passivos, que não reagem. A gente não pode deixar isso perpetuar, senão vamos formar que tipo de cidadãos?”- questiona Salvador.
"A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe." (Jean Piaget)
Segundo Salvador, na sala de aula o professor tem um papel fundamental, transformador. Como geógrafo, busca, através de sua disciplina, falar sobre tudo: sobre a família, a comunidade, a cidade e o mundo. “Sobre meio ambiente, por exemplo, dá para tratar sobre camada de ozônio e também sobre o lixo ali da esquina, ou seja, uma experiência que eles têm todos os dias”.
"O saber que não vem da experiência não é realmente saber". (Lev Vygotsky)

O que não pode acontecer, na opinião de Salvador, mas acontece todos os dias, é o professor e a professora terem que resolver assuntos familiares. “Os pais vão repassando incumbências que seriam da família e, ao mesmo tempo, não participam da vida escolar, para que esse projeto de ensino seja construído junto. E, em alguns casos, ainda atacam a escola, embora no dia a dia sejam omissos”.
Segundo Nara Teixeira, isso não é diferente no setor privado.
Salvador continua dizendo que muitos gestores e professores também se acomodam e entram em um processo pragmático, que limita a visão sobre o que seja educar em sua amplitude.
Desta forma, a comunidade se afasta da escola, vista apenas como “depósito” de filhos, e a escola, por sua vez, não dá conta de chamar essa comunidade para o diálogo.

Paixão por lecionar

A contradição na docência se dá justamente porque é uma profissão de extremos. Se por um lado trabalhista castiga, por outro realiza.
“A gente vive bons momentos com os alunos e a maioria deles são muito interessantes”, assegura Regina Kottel. Além disso, completa ela, “essa paixão pela sala de aula está no sangue”.
“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. (Cora Coralina)
Regina fica triste quando vê o abandono da profissão. Segundo ela, é muita gente indo embora, preferindo outros campos profissionais, menos tensos, melhor remunerados. Ela diz ainda que outros colegas ficam, mas, no íntimo, desejam largar tudo também, mudar de ofício, esquecer o compromisso imposto, que agora, ao invés de alegria, adoece corpo e alma.
“A compreensão sobre a função social da docência resolve muitas angústias”, afirma Nara Teixeira. Segundo ela, valorização financeira não há, mas sim o compromisso transformador, que é muito realizador.
Apesar dos problemas, o professor Ciréia garante que isso não o desanima. “Eu gosto muito de ser professor. Fico muito orgulhoso de ser chamado na rua de professor, tomo isso como elogio. A maioria de nós já teve um professor na vida e os professores são aqueles que ficam em nosso imaginário, como pessoas importantes, que fizeram diferença para nós. Isso é muito bom. Assim como é bom ter a oportunidade de dialogar com essa juventude, ensinar e aprender com ela, nesse espaço de liberdade que ainda é a sala de aula”.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Abaixo assinado

 A campanha de difamação e maledicência desencadeada pelo PSDB/DEM contra a candidata Dilma é repugnante. Na ânsia de reverter a seu favor os votos dos eleitores, os serristas estão difundindo inverdades sobre o posicionamento de Dilma/Temer acerca de questões religiosas. Ao mesmo tempo, ressuscitam temas polêmicos acerca de valores morais e éticos que não condizem com a realidade social do século XXI. Eles estão usando Deus, religião e família de forma hipócrita para satisfazer seus interesses eleitorais, colocando, inclusive, de forma indevida temas que são da alçada do Poder Legislativo como se fossem do Poder Executivo. Ou seja, tentam desinformar e confundir a população. Somos contra esses procedimentos, pois acreditamos que a Eleição é para discutir política. Embora os valores morais, éticos e religiosas permeiam todas as discussões, eles não podem ser usados para distorcer idéias e propostas políticas e, muito menos para enganar o povo. Nós, abaixo-assinados queremos que a campanha tenha um debate qualificado, no campo político-econômico, social e cultural. Queremos que sejam reveladas, ao povo, as propostas das duas coligações. Se você concorda conosco, numere e assine abaixo e remeta o e-mail a todos de sua caixa postal. Formemos uma corrente do bem.


1- Paulo Augusto Mário Isaac - Rondonópolis/MT

2- Mauro Cesar Campos - Rondonópolis/MT

3- Francisco Xavier de Araújo - Rondonópolis/MT

4- Delcimar Borges - Rondonópolis/MT

5- José Valentim Fernandes da Silva - Rondonópolis/MT

6- João Garcia de Souza - Rondonópolis/MT

7- Paulo Sérgio Soares - Rondonópolis/MT

8- Wilson Luiz Riva - Rondonópolis/MT

9- Dirceu Coelho - Rondonópolis/MT

10- José de Fátima - Rondonópolis/MT

11- Baltazar de Melo - Rondonópolis/MT

12- Aparecida Lemos - Rondonópolis/MT

13- Edson Cardoso - Rondonópolis/MT

14- Antonio Fernandes de Moraes - Rondonópolis/MT

15- Cleomar de Lima Carvalho - Rondonópolis/MT

16- Martiniano Francisco Martins - Rondonópolis/MT

17- Paulo Augusto Mário Isaac - Rondonópolis/MT

18- Luzinete Rodrigues da Silva - Rondonópolis/MT

19- Juvenal Paiva da Silva - Rondonópolis/MT

20- Maria Cristina de Ávila - Rondonópolis/MT

21- Caius H. Pístori - Rondonópolis/MT

22- José Alves Teodoro - Rondonópolis/MT

23- Regina Celia Farias Mingareli- Rondonópolis- MT

24- Ricardo Klinkerfus Filho

25- Beatriz dos Santos de Oliveira Feitosa Sonora - MS

sábado, 9 de outubro de 2010

Manifesto de Reitores das Universidades Federais, à Nação Brasileira

Da pré-escola ao pós-doutoramento – ciclo completo educacional e acadêmico de formação das pessoas na busca pelo crescimento pessoal e profissional – consideramos que o Brasil encontrou o rumo nos últimos anos, graças a políticas, aumento orçamentário, ações e programas implementados pelo Governo Lula com a participação decisiva e direta de seus ministros, os quais reconhecemos, destacando o nome do Ministro Fernando Haddad.

Aliás, de forma mais ampla, assistimos a um crescimento muito significativo do País em vários domínios: ocorreu a redução marcante da miséria e da pobreza; promoveu-se a inclusão social de milhões de brasileiros, com a geração de empregos e renda; cresceu a autoestima da população, a confiança e a credibilidade internacional, num claro reconhecimento de que este é um País sério, solidário, de paz e de povo trabalhador. Caminhamos a passos largos para alcançar patamares mais elevados no cenário global, como uma Nação livre e soberana que não se submete aos ditames e aos interesses de países ou organizações estrangeiras.

Este período do Governo Lula ficará registrado na história como aquele em que mais se investiu em educação pública: foram criadas e consolidadas 14 novas universidades federais; institui-se a Universidade Aberta do Brasil; foram construídos mais de 100 campi universitários pelo interior do País; e ocorreu a criação e a ampliação, sem precedentes históricos, de Escolas Técnicas e Institutos Federais. Através do PROUNI, possibilitou-se o acesso ao ensino superior a mais de 700.000 jovens. Com a implantação do REUNI, estamos recuperando nossas Universidades Federais, de norte a sul e de leste a oeste. No geral, estamos dobrando de tamanho nossas Instituições e criando milhares de novos cursos, com investimentos crescentes em infraestrutura e contratação, por concurso público, de profissionais qualificados. Essas políticas devem continuar para consolidar os programas atuais e, inclusive, serem ampliadas no plano Federal, exigindo-se que os Estados e Municípios também cumpram com as suas responsabilidades sociais e constitucionais, colocando a educação como uma prioridade central de seus governos.

Por tudo isso e na dimensão de nossas responsabilidades enquanto educadores, dirigentes universitários e cidadãos que desejam ver o País continuar avançando sem retrocessos, dirigimo-nos à sociedade brasileira para afirmar, com convicção, que estamos no rumo certo e que devemos continuar lutando e exigindo dos próximos governantes a continuidade das políticas e investimentos na educação em todos os níveis, assim como na ciência, na tecnologia e na inovação, de que o Brasil tanto precisa para se inserir, de uma forma ainda mais decisiva, neste mundo contemporâneo em constantes transformações.

Finalizamos este manifesto prestando o nosso reconhecimento e a nossa gratidão ao Presidente Lula por tudo que fez pelo País, em especial, no que se refere às políticas para educação, ciência e tecnologia. Ele também foi incansável em afirmar, sempre, que recurso aplicado em educação não é gasto, mas sim investimento no futuro do País. Foi exemplo, ainda, ao receber em reunião anual, durante os seus 8 anos de mandato, os Reitores das Universidades Federais para debater políticas e ações para o setor, encaminhando soluções concretas, inclusive, relativas à Autonomia Universitária.

Alan Barbiero – Universidade Federal do Tocantins (UFT)

José Weber Freire Macedo – Univ. Fed. do Vale do São Francisco (UNIVASF)

Aloisio Teixeira – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Josivan Barbosa Menezes – Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA)

Amaro Henrique Pessoa Lins – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Malvina Tânia Tuttman – Univ. Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Ana Dayse Rezende Dórea – Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

Maria Beatriz Luce – Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)

Antonio César Gonçalves Borges – Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

Maria Lúcia Cavalli Neder – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Carlos Alexandre Netto – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Miguel Badenes P. Filho – Centro Fed. de Ed. Tec. (CEFET RJ)

Carlos Eduardo Cantarelli – Univ. Tec. Federal do Paraná (UTFPR)

Miriam da Costa Oliveira – Univ.. Fed. de Ciênc. da Saúde de POA (UFCSPA)

Célia Maria da Silva Oliveira – Univ. Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Natalino Salgado Filho – Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Damião Duque de Farias – Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)

Paulo Gabriel S. Nacif – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)

Felipe .Martins Müller – Universidade Federal da Santa Maria (UFSM).

Pedro Angelo A. Abreu – Univ. Fed. do Vale do Jequetinhonha e Mucuri (UFVJM)

Hélgio Trindade – Univ. Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)

Ricardo Motta Miranda – Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

Hélio Waldman – Universidade Federal do ABC (UFABC)

Roberto de Souza Salles – Universidade Federal Fluminense (UFF)

Henrique Duque Chaves Filho – Univ. Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Romulo Soares Polari – Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Jesualdo Pereira Farias – Universidade Federal do Ceará – UFC

Sueo Numazawa – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)

João Carlos Brahm Cousin – Universidade Federal do Rio Grande – (FURG)

Targino de Araújo Filho – Univ. Federal de São Carlos (UFSCar)

José Carlos Tavares Carvalho – Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)

Thompson F. Mariz – Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

José Geraldo de Sousa Júnior – Universidade Federal de Brasília (UNB)

Valmar C. de Andrade – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)

José Seixas Lourenço – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)

Virmondes Rodrigues Júnior – Univ. Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)

Walter Manna Albertoni – Universidade Federal de São Paulo ( UNIFESP)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Dez falsos motivos para não votar na Dilma

          Normalmente não declaro meu voto, até porque acredito que a maior conquista democrática do povo foi o direito ao voto secreto, entretanto diante de algumas questões que vem sendo vinculadas pela internet, me sinto um pouco que no direito de socializar textos que partem de princípios nos quais a democracia é vista de forma mais aprofundada. Cabe a nós educadores pensarmos mais profundamente acerca dessas temática para não incorrermos no erro de sermos apenas reprodutores de ideias absurdas.

          Segue um texto para pensar um pouco mais acerca de políticas públicas no Brasil.


          Dez falsos motivos para não votar na Dilma - Por Jorge Furtado, cineasta.

          "Tenho alguns amigos que não pretendem votar na Dilma, um ou outro até diz que vai votar no Serra. Espero que sigam sendo meus amigos. Política, como ensina André Comte-Sponville, supõe conflitos: “A política nos reúne nos opondo: ela nos opõe sobre a melhor maneira de nos reunir”.
Leio diariamente o noticiário político e ainda não encontrei bons argumentos para votar no Serra, uma candidatura que cada vez mais assume seu caráter conservador. Serra representa o grupo político que governou o Brasil antes do Lula, com desempenho, sob qualquer critério, muito inferior ao do governo petista, a comparação chega a ser enfadonha, vai lá para o pé da página, quem quiser que leia. (1)
          Ouvi alguns argumentos razoáveis para votar em Marina, como incluir a sustentabilidade na agenda do desenvolvimento. Marina foi ministra do Lula por sete anos e parece ser uma boa pessoa, uma batalhadora das causas ambientalistas. Tem, no entanto (na minha opinião) o inconveniente de fazer parte de uma igreja bastante rígida, o que me faz temer sobre a capacidade que teria um eventual governo comandado por ela de avançar em questões fundamentais como os direitos dos homossexuais, a descriminalização do aborto ou as pesquisas envolvendo as células tronco.
           Ouço e leio alguns argumentos para não votar em Dilma, argumentos que me parecem inconsistentes, distorcidos, precários ou simplesmente falsos. Passo a analisar os dez mais freqüentes:
           1. “Alternância no poder é bom”.
Falso. O sentido da democracia não é a alternância no poder e sim a escolha, pela maioria, da melhor proposta de governo, levando-se em conta o conhecimento que o eleitor tem dos candidatos e seus grupo políticos, o que dizem pretender fazer e, principalmente, o que fizeram quando exerceram o poder. Ninguém pode defender seriamente a idéia de que seria boa a alternância entre a recessão e o desenvolvimento, entre o desemprego e a geração de empregos, entre o arrocho salarial e o aumento do poder aquisitivo da população, entre a distribuição e a concentração da riqueza. Se a alternância no poder fosse um valor em si não precisaria haver eleição e muito menos deveria haver a possibilidade de reeleição.
          2. “Não há mais diferença entre direita e esquerda”.
Falso. Esquerda e direita são posições relativas, não absolutas. A esquerda é, desde a sua origem, a posição política que tem por objetivo a diminuição das desigualdades sociais, a distribuição da riqueza, a inserção social dos desfavorecidos. As conquistas necessárias para se atingir estes objetivos mudam com o tempo. Hoje, ser de esquerda significa defender o fortalecimento do estado como garantidor do bem-estar social, regulador do mercado, promotor do desenvolvimento e da distribuição de riqueza, tudo isso numa sociedade democrática com plena liberdade de expressão e ampla defesa das minorias. O complexo (e confuso) sistema político brasileiro exige que os vários partidos se reúnam em coligações que lhes garantam maioria parlamentar, sem a qual o país se torna ingovernável. A candidatura de Dilma tem o apoio de políticos que jamais poderiam ser chamados de “esquerdistas”, como Sarney, Collor ou Renan Calheiros, lideranças regionais que se abrigam principalmente no PMDB, partido de espectro ideológico muito amplo. José Serra tem o apoio majoritário da direita e da extrema-direita reunida no DEM (2), da “direita” do PMDB, além do PTB, PPS e outros pequenos partidos de direita: Roberto Jefferson, Jorge Borhausen, ACM Netto, Orestes Quércia, Heráclito Fortes, Roberto Freire, Demóstenes Torres, Álvaro Dias, Arthur Virgílio, Agripino Maia, Joaquim Roriz, Marconi Pirilo, Ronaldo Caiado, Katia Abreu, André Pucinelli, são todos de direita e todos serristas, isso para não falar no folclórico Índio da Costa, vice de Serra. Comparado com Agripino Maia ou Jorge Borhausen, José Sarney é Che Guevara.
          3. “Dilma não é simpática”(?)
Argumento precário e totalmente subjetivo. Precário porque a simpatia não é, ou não deveria ser, um atributo fundamental para o bom governante. Subjetivo, porque o quesito “simpatia” depende totalmente do gosto do freguês. Na minha opinião, por exemplo, é difícil encontrar alguém na vida pública que seja mais antipático que José Serra, embora ele talvez tenha sido um bom governante de seu estado. Sua arrogância com quem lhe faz críticas, seu destempero e prepotência com jornalistas, especialmente com as mulheres, chega a ser revoltante.
          4. “Dilma não tem experiência”.
Argumento inconsistente. Dilma foi secretária de estado, foi ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, fez parte do conselho da Petrobras, gerenciou com eficiência os gigantescos investimentos do PAC, dos programas de habitação popular e eletrificação rural. Dilma tem muito mais experiência administrativa, por exemplo, do que tinha o Lula, que só tinha sido parlamentar, nunca tinha administrado um orçamento, e está fazendo um bom governo.
5. “Dilma foi terrorista” (foi contra os assassinos).
Argumento em parte falso, em parte distorcido. Falso, porque não há qualquer prova de que Dilma tenha tomado parte de ações “terroristas”. Distorcido, porque é fato que Dilma fez parte de grupos de resistência à ditadura militar, do que deve se orgulhar, e que este grupo praticou ações armadas, o que pode (ou não) ser condenável. José Serra também fez parte de um grupo de resistência à ditadura, a AP (Ação Popular), que também praticou ações armadas, das quais Serra não tomou parte. Muitos jovens que participaram de grupos de resistência à ditadura hoje participam da vida democrática como candidatos. Alguns, como Fernando Gabeira, participaram ativamente de seqüestros, assaltos a banco e ações armadas. A luta daqueles jovens, mesmo que por meios discutíveis, ajudou a restabelecer a democracia no país e deveria ser motivo de orgulho, não de vergonha.
6. “As coisas boas do governo petista começaram no governo tucano” (mentira).
Falso. Todo governo herda políticas e programas do governo anterior, políticas que pode manter, transformar, ampliar, reduzir ou encerrar. O governo FHC herdou do governo Itamar o real, o programa dos genéricos, o FAT, o programa de combate a AIDS. Teve o mérito de manter e aperfeiçoá-los, desenvolvê-los, ampliá-los. O governo Lula herdou do governo FHC, por exemplo, vários programas de assistência social. Teve o mérito de unificá-los e ampliá-los, criando o Bolsa Família. De qualquer maneira, os resultados do governo Lula são tão superiores aos do governo FHC que o debate “quem começou o quê” torna-se irrelevante.
7. “Serra vai moralizar a política” (ridículo).
Argumento inconsistente. Nos oito anos de governo tucano-pefelista - no qual José Serra ocupou papel de destaque, sendo escolhido para suceder FHC - foram inúmeros os casos de corrupção, um deles no próprio Ministério da Saúde, comandado por Serra, o superfaturamento de ambulâncias investigado pela “Operação Sanguessuga”. Se considerarmos o volume de dinheiro público desviado para destinos nebulosos e paraísos fiscais nas privatizações e o auxílio luxuoso aos banqueiros falidos, o governo tucano talvez tenha sido o mais corrupto da história do país. Ao contrário do que aconteceu no governo Lula, a corrupção no governo FHC não foi investigada por nenhuma CPI, todas sepultadas pela maioria parlamentar da coligação PSDB-PFL. O procurador da república ficou conhecido com “engavetador da república”, tal a quantidade de investigações criminais que morreram em suas mãos. O esquema de financiamento eleitoral batizado de “mensalão” foi criado pelo presidente nacional do PSDB, senador Eduardo Azeredo, hoje réu em processo criminal. O governador José Roberto Arruda, do DEM, era o principal candidato ao posto de vice-presidente na chapa de Serra, até ser preso por corrupção no “mensalão do DEM”. Roberto Jefferson, réu confesso do mensalão petista, hoje apóia José Serra. Todos estes fatos, incontestáveis, não indicam que um eventual governo Serra poderia ser mais eficiente no combate à corrupção do que seria um governo Dilma, ao contrário.
8. “O PT apóia as FARC” (mais ridículo ainda).
Argumento falso. É fato que, no passado, as FARC ensaiaram uma tentativa de institucionalização e buscaram aproximação com o PT, então na oposição, e também com o governo brasileiro, através de contatos com o líder do governo tucano, Arthur Virgílio. Estes contatos foram rompidos com a radicalização da guerrilha na Colômbia e nunca foram retomados, a não ser nos delírios da imprensa de extrema-direita. A relação entre o governo brasileiro e os governos estabelecidos de vários países deve estar acima de divergências ideológicas, num princípio básico da diplomacia, o da auto-determinação dos povos. Não há notícias, por exemplo, de capitalistas brasileiros que defendam o rompimento das relações com a China, um dos nossos maiores parceiros comerciais, por se tratar de uma ditadura. Ou alguém acha que a China é um país democrático?
9. “O PT censura a imprensa” (mentira, a imprensa que o censura).
Argumento falso. Em seus oito anos de governo o presidente Lula enfrentou a oposição feroz e constante dos principais veículos da antiga imprensa. Esta oposição foi explicitada pela presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) que declarou que seus filiados assumiram “a posição oposicionista (sic) deste país”. Não há registro de um único caso de censura à imprensa por parte do governo Lula. O que há, frequentemente, é a queixa dos órgãos de imprensa sobre tentativas da sociedade e do governo, a exemplo do que acontece em todos os países democráticos do mundo, de regulamentar a atividade da mídia.
10. “Os jornais, a televisão e as revistas falam muito mal da Dilma e muito bem do Serra”.
Isso é verdade. E mais um bom motivo para votar nela e não nele.

FATOS MUITO IMPORTANTES:

(1) Alguns dados comparativos dos governos FHC e Lula.
Geração de empregos:

FHC/Serra = 780 mil x Lula/Dilma = 12 milhões
Salário mínimo:

FHC/Serra = 64 dólares x Lula/Dilma = 290 dólares
Mobilidade social (brasileiros que deixaram a linha da pobreza):

FHC/Serra = 2 milhões x Lula/Dilma = 27 milhões
Risco Brasil:

FHC/Serra = 2.700 pontos x Lula/Dilma = 200 pontos

Dólar:

FHC/Serra = R$ 3,00 x Lula/Dilma = R$ 1,78
Reservas cambiais:

FHC/Serra = 185 bilhões de dólares negativos x Lula/Dilma = 239 bilhões de dólares positivos.
Relação crédito/PIB:

FHC/Serra = 14% x Lula/Dilma = 34%

Produção de automóveis:

FHC/Serra = queda de 20% x Lula/Dilma = aumento de 30%

Taxa de juros:

FHC/Serra = 27% x Lula/Dilma = 10,75%

Para pensar acerca da política no Brasil

                                                  Marina,... você se pintou?



                                                                                                                                 Maurício Abdalla [1]

          “Marina, morena Marina, você se pintou” – diz a canção de Caymmi. Mas é provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher, militante, ecológica e socialmente comprometida com o “grito da Terra e o grito dos pobres”, como diz Leonardo.
          Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito a escolhas partidárias.
          Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as “famiglias” que controlam a informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito.
          Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua candidata. Mas “os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz”. Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.
          Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. “Azul tucano”. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e nossos inimigos viscerais.
          Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa de propagar a “vitória da Marina”. Não aceite esse presente de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela se dirige.
          “Marina, você faça tudo, mas faça o favor”: não deixe que a pintem de azul tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você “tanto faz”. Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem “esse rosto que o povo gosta, que gosta e é só dele”.
          Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. “Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu”.


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[1] Professor de filosofia da UFES, autor de Iara e a Arca da Filosofia (Mercuryo Jovem), dentre outros.

Reflexões acerca do significado da Democracia no Brasil

Acredito que o artigo abaixo traduz uma realidade do Brasil contemporâneo que precisa ser debatida para que não incorramos em velhos erros do passado.
É fundamental que salientamos o fato de que os programas sociais t(axados por aqueles que nunca viveram a realidade da fome, como assistencialistas), são a garantia do mínimo de dignidade para uma grande parcela da sociedade brasileira, excluída historicamente do processo produtivo neste país.


Maria Rita Kehl




          Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
          Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
          Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
          O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".

         Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
          Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.


Fonte: Estadão - http://www.estadao.com.br/

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Atividade com o filme "Tempos Modernos"

Parabenizo aos alunos pelo cumprimento do prazo.
Ressalto que gostei bastante dos comentários feitos acerca do filme assistido. Estes já estão inseridos nas notas do terceiro bimestre, entretanto o mais importante a meu ver foi a capacidade que todos tiveram de visualizar um processo de exploração iniciado com a Revolução industrial e que ainda é uma realidade.
Destaco o comentário do Matheus, mesmo não tratando acerca do filme fez uma comparação interessante entre o processo da Revolução Industrial e a realidade da cidade em que vivemos.




A seguri comentários postados pelos alunos do 2º Ano "B" (Ensino Médio) da Escola Estadual Comandante Maurício Coutinho Dutra.


Daniela Filipini disse...


Com a Revolução Industrial, o trabalhador passou a ser substituído pelas máquinas, por estas utilizarem menos tempo para a produção e por produzirem produtos em maior quantidade. Os donos de fábricas exploravam os trabalhadores ao máximo, tendo como objetivo uma produção cada vez maior, queriam até mesmo que os operários trabalhassem enquanto comiam, para não perder sequer um minuto, juntamente com a carga horária muito elevada, isso chega a causar danos psicológicos aos operários, que passam a pensar somente em trabalhar. No filme, Charlie Chaplin é considerado louco e, então, é mandado para um hospício, e quando retorna para a vida normal, se encontra sem emprego e acaba sendo preso quando, por engano, participa de uma rebelião.

O filme retrata a vida na sociedade industrial, onde cada operário tem uma devida função, dentro da fábrica. Retrata também a grande desigualdade social, a injustiça entre classes sociais; a fome, que foi e ainda é realidade de muitos; o desemprego, enfim.



27 de setembro de 2010 12:35



dominik disse...

A revolução industrial fez com que o trabalho manual fosse substituído pelo trabalho mecânico.O número de desempregados só aumentou,e as empresas só cobravam cada vez mais de seus funcionários para haver um aumento maior na produção.

Essas empresas exploravam seus funcionários,diminuindo seus horários de descanso,como no almoço por exemplo, o tempo era muito curto, para que o trabalho não fosse interrompido por muito tempo.



27 de setembro de 2010 13:16



Isabela disse...

O filme mostra um pouco sobre o processo de mecanização das indústrias.

Antes da Revolução Indústrial, os trabalhadores eram explorados, eles passavam horas e horas trabalhando sem parar e fazendo o mesmo serviço sempre.

As indústrias ainda pagam mão de obra, mas não é como antigamente. As indústrias colocam máquinas no lugar de pessoas. Isso é bom porque temos mais qualidade nos produtos que compramos, mas, por outro lado é ruim porque as máquinas ocupam o lugar dos homens, e assim os deixam desempregados.



27 de setembro de 2010 14:01



Camila disse...

Com a Revolução Industrial, as pessoas foram substituídas por máquinas, gerando assim desemprego e fome.

Antigamente os trabalhadores eram totalmente explorados, seus chefes queriam que eles comessem enquanto trabalhavam.

No filme Charlie Chaplin ficou louco de tanto trabalhar, foi internado num hospício e quando saiu encontrou-se desempregado, ou seja, foi vítima de seu próprio emprego.



27 de setembro de 2010 14:16



Milena Roberta disse...

Na revolução industrial o trabalhador foi substituido pelas maquinas causando desempregos.

as impresas exploravam mais ainda os trabalhadores porque queriam uma maior produção! apesar de colocarem maquinas no lugar de trabalhadores pelo lado positivo até que é bom porque os produtos seriam de melhor qualidade ao consumidor. já pelo negativo cresceria mais ainda o desemprego e isso nao é bom. no filme charlie chaplin foi dado como louco de tanto trabalhar e internado em um hospicio, ao sair ele estava desempregado.



27 de setembro de 2010 15:27



Cαίqυє¹ Style disse...

Aluna:Rozieli Inacio de Almeida N° 37

2°ano B

Tempos Modernos



Conta a história de homen que trabalhava em uma indústria,e ele acabou ficando louco de tanto apertar parafusos ,ele não tinha descanso.Depois de uma crise de ataque ele foi internado em uma clinica pisciquiatrica,e algun tempo depois ele saiu de lá.Saindo da clinica,quando ele foi atravessar a rua, passou um caminhão e deixou uma bandeira vermelha cair ele então pegou e começou a acenar com a bandeira para tentar chamar atenção,quando derepente apareceu um monte de pessoas atraz dele protestando.Mas ele não viu, e a policia chegou para prender ele porque eles penssaram que ele era o lider do protesto por ele estar na frente de todos os protestantes.



28 de setembro de 2010 08:49



erylayne disse...

Jéssica Thais n°:20



O filme relata que com a Revolução Industrial,onde trabalhadores são trocados por maquinas. Em uma fabrica com muita mão de obra, o chefe quer mais rapidez dos seus funcionarios,ele vê que a hora tem que parar de trabalhar para comer perderia tempo, pois alguns inventores construiram uma máquina onde não é precisava parar para comer, pois podia trabalhar e comer ao mesmo tempo, mais a criação não foi realizada com sucesso. Mas mesmo assim o chefe queria mais trabalho,então com sua ambisão foi aumentando sua produção,aumentando o volume de trabalho,seus funcionarios com o trabalho essecivo acaba deixando-os loucos.

Esse filme relata que com o tempo passando a produção aumentando, e as máquinas entrando em circulação dando muito mais produção do que os funcionarios com mão-de-obra.



28 de setembro de 2010 09:48



erylayne disse...

ERYLAYNE n°13

O filme retrata sobre Revolução industrial a onde os funcionarios trabalhavam muitos nas industrias de mecanismo, e seus patrão queriam exploram para a produzirem mais muito mais do que eles produziram até em horarios de almoço que seriam horarios para os funcionarios descançarem eles queriam que fabricarem mais. Eos funcionarios começaram a ser susbtituidos por maquinas e assim varias pessoas perderam empregos. assim o filme diz que o Carles Chaplin ficou louco e depois de sair do hospicio saiu desempregado e depois foi preso com a rebelião.



28 de setembro de 2010 10:00



Douglas disse...

logo apos a revolução industrial os trabalhadores eram sujeitos a exploração pelas fabricas tinhan que trabalhar mais e mais rapido para almentar a produção No filme, Charlie Chaplin conta isso um homen que trabalhava tanto que mesmo quando não estava trabalhando so pensava no trabalho .

o trabalho tava deixando ele louco seu patrão queria que ele comece trabalhando e assim foi a revolução os trabalhadores passou a ser substituido por maquinadeixando muita gente sem emprego



29 de setembro de 2010 12:25



Nara Dantas disse...

Indianara Dantas n° 18



O filme mostra a substituição da mão de obra humana por máquinas e trazendo o desemprego, pois usa menos tempo e produziam muito mais. Os donos das fábricas exploravam muito seus trabalhadores, para que eles só pensassem em trabalhar, na hora de se alimentar os donos queriam que os trabalhadores fizessem tudo ao mesmo tempo como '' comer e trabalhar '' .

No filme Charlie Chaplin fica louco com o ritmo intenso do trabalho onde consegue o seu ganha pão. Demitido, acaba parando em um hospital. E quando sai para ter sua vida normal acaba preso como um agitador comunista e por engano entra numa rebelião. Em meio a toda essa confusão, ainda arruma tempo para ajudar uma jovem órfã.



29 de setembro de 2010 12:29



matheus disse...

rodrigo







logo apos a revolução industrial os trabalhadores eram sujeitos a exploração das fabricas ele exploravamtanto os trabalhadores que estavam testando uma maquina para que eles se alimentasem enquanto trabalhavam para não parar a produção muitos trabalhadores não aquentava tanto serviço e acabavam ficando loucos ficando sem emprego,ai ta o poplema acabaram ficando desempregados



29 de setembro de 2010 12:44



matheus disse...

a revolução industrial teve pontos bons e pontos ruins seus pontos bons mas produção e pouco tempo e baixo custo de manutenção

seus pontos ruins foram o grande numero de desemprego nas fabricas dos trabalhadores.

os que ficaram ficaram pra manuseia as maquinas na empresa.

temos um exemplo disso em sonora na usina sonora as maquinas começa a substitui os trabalhadores no corte da cana as maquinas são mais rápidas produzem em menos tempo e tem baixo custo para manutenção e não agridem o meio ambiente como e feito com os corta-dores de cana e preciso queima para depois corta acho que e a revolução e boa mas também tem pontos negativos



29 de setembro de 2010 13:01

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

"Tempos Modernos"

      O filme "Tempos Modernos", brilhantemente protagonizado por Charles Chaplin, aponta para um processo iniciado ainda no século XVIII, e que secundarizou as atividades desenvolvidas pelo ser humano na produção de bens de consumo.
      É um recurso visual interessante e permite visualizar, por meio da comédia a realidade de exploração a que os trabalhadores passaram a estar sujeitos.
      O 2º Ano "B" assistiu a um fragmento deste filme para a aula de história, de forma que fosse iniciado o estudo acerca da Revolução Industrial. A partir disso, foi solicitado que fizessem um comentário crítico acerca da projeção e postassem nos comentários a seguir.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

HUNT, Lynn. A Invenção dos Direitos Humanos - uma história (fichamento)

HUNT, Lynn. A Invenção dos Direitos Humanos: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
Introdução
“Consideramos estas verdades autoevidentes”
“(...) Jefferson (...) ‘Consideramos estas verdades autoevidentes: que todos os homens são criados iguais, dotados pelo seu Criador de certos Direitos inalienáveis, que entre estes estão a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade’. (...)” P. 13
“(...) Quando a Bastilha caiu, em 14 de julho, e a Revolução Francesa começou para valer, a necessidade de uma declaração oficial ganhou impulso. Apesar dos melhores esforços de Lafayette, o documento não foi forjado por uma única mão, como Jefferson fizera para o o Congresso americano. (...)
O documento tão freneticamente ajambrado era espantoso na sua impetuosidade e simplicidade. Sem mencionar nem uma única vez rei, nobreza ou igreja, declarava que ‘os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem’ são a fundação de todo e qualquer governo. Atribuía a soberania à nação e não ao rei, (...)” P. 14
“(...) apesar da controvérsia provocada pela Revolução Francesa, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão encarnou a promessa de direitos humanos universais. Em 1948, quando as Nações Unidas adotaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o artigo 1º da dizia: ‘Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos’. (...)” P. 15
“Ainda mais perturbador é que aqueles que com tanta confiança declaravam no final do século XVIII que os direitos são universais vieram a demonstrar que tinham algo muito menos inclusivo em mentes. Anos ficamos surpresos por eles considerarem que as crianças, os insanos, os prisioneiros ou os estrangeiros eram incapazes ou indignos de plena participação no processo político, pois pensamos da mesma maneira. Mas eles também excluíam aqueles sem propriedade, os escravos, os negros livres, em alguns casos as minoria religiosas e, sempre e por toda parte, as mulheres. Em anos recentes, essas limitações a ‘todos os homens’ provocaram muitos comentários, e alguns estudiosos até questionaram se as declarações tinham um verdadeiro significado de emancipação. (...)” P. 16
“(...) a afirmação de autoevidência é crucial para a história dos direitos humanos, e este livro busca explicar como ela veio a ser tão convincente no século XVIII. Felizmente, ela também propicia um ponto focal no que tende a ser uma história muito difusa. Os direitos humanos tornaram-se tão ubíquos na atualidade que parecem requer uma história igualmente vasta. As ideias gregas sobre a pessoa individual, as noções romanas de lei e direito, as doutrinas cristãs da alma... O risco é que a história dos direitos humanos se torne a história da civilização ocidental ou agora, às vezes, até a história do mundo inteiro. (...)”P. 18
“Os direitos humanos requerem três qualidades encadeadas: devem ser naturais (inerentes nos seres humanos), iguais ( o mesmo para todo mundo) e universais (aplicáveis por toda parte). Para que os direitos sefam direitos humanos, todos os humanos em todas as regiões do mundo devem possuí-los igualmente e apenas por causa de seu status como seres humanos. (...)” P. 19
“(...) a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão proclamava que ‘Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos’. Não os homens franceses, não os homens brancos, não os católicos, mas ‘os homens ‘, o que tanto naquela época como agora não significa apenas machos, mas pessoas, isto é, membros da raça humana. (...)” P.20
“(...) tudo dependia – como ainda depende – da interpretação dada ao que não era mais ‘aceitável’.” P. 24
“Os direitos humanos são difíceis de determinar porque sua definição, e na verdade a sua própria existência, depende tanto das emoções quanto da razão. A reivindicação de autoevidência se baseia em última análise num apelo emocional: ela é convincente se ressoa dentro de cada indivíduo. (...) temos muita certeza de que um direito humano está em questão quando nos sentimos horrorizados pela sua violação. (...)” P. 24-25
“(...) As ideias filosóficas, as tradições legais e a política revolucionária precisaram ter esse tipo de ponto de referência emocional interior para que os direitos humanos fossem verdadeiramente ‘autoevidentes’.(...)” P. 25
“(...) Todo mundo teria direitos somente se todo mundo pudesse se visto, de um modo essencial, como semelhante. (...)” P. 26
“(...) As crianças, os criados, os sem propriedade e talvez até os escravos poderaima um dia tornar-se autônomos,crescendo, abandonando o serviço, adquirindo uma propriedade ou comprando a sua liberdade. Apenas as mulheres não pareciam ter nenhuma desses opções: eram definidas como inerentemente dependentes de seus pais ou maridos. (...)” P. 27
“A autonomia e empatia são práticas culturais e não apenas ideias, e portanto são incorporadas de forma bastante literal, isto é, têm dimensões tanto físicas como emocionais. A autonomia individual depende de uma percepção crescente da separação e do caráter sagrado dos corpos humanos: o seu corpo é seu, e o meu corpo é meu, e devemos ambos respeitar as fronteiras entre os corpos um do outro. (...)” P. 27
“(...) Com o tempo, as pessoas começaram a dormir sozinhas ou apenas com um cônjuge na cama. Usavam utensílios para comer e começaram a considerar repulsivo um comportamento antes tão aceitável, como jogar comida no chão ou limpar excreções corporais nas roupas. A constante evolução de noções de interioridade e profundidade da psique, desde a alma cristã à consciência protestante e às noções de sensibilidade do século XVIII, preenchia a individualidade com um novo conteúdo. Todos esses processos ocorreram durante um longo período.” P. 28
“(...) A tortura como parte do processo judicial e as formas mais extremas de punição corporal começaram a ser vistas como inaceitáveis. Todas essas mudanças contribuíram para uma percepção da separação e do autocontrole dos corpos individuais, junto com a possibilidade de empatia com outros.
(...) A tortura, isto é, a tortura legalmente autorizada para obter confissões de culpa ou nomes de cúmplices, tornou-se uma questão de grande importância depois que Montesquieu atacou a prática no seu Espírito da leis (1748). (...)” P. 29
“(...) Certos tipos de lesões cerebrais afetam a compreensão narrativa, e doenças como o autismo mostram que a capacidade de empatia – o reconhecimento de que os outros têm mentes como a nossa – tem uma base biológica. Na sua maior parte, entretanto, esses estudos só examinam um lado da equação: o biológico. Mesmo que a maioria dos psiquiatras e até alguns neurocientistas concordem que o próprio cérebro é influenciado por forças sociais e culturais, essa interação tem sido mais difícil de estudar. Na verdade, o próprio eu tem se mostrado muito difícil de examinar. Sabemos que temos a experiência de ter um eu, mas os nerocientista não conseguiram determinar o local dessa experiência , muito menos explicar como ela funciona.” P. 31
“(...) Concordo com outros historiadores que o significado do eu muda ao longo do tempo, e acredito que a experiência – e não apenas a ideia – da individualidade muda de forma decisiva para algumas pessoas no século XVIII.
(...) Os novos tipos de leitura ( e de visão e audição) criaram novas experiências individuais (empatia), que por sua vez tornaram possíveis novos conceitos sociais e políticos (os direitos humanos). (...)” P. 32
“(...) estou insistindo que qualquer relato de mudança histórica deve no fim das contas explicar a alteração das mentes individuais. (...)” P. 33

THOMPSON, Paul. A Voz do Passado - história oral (fichamento)

THOMPSON, Paul (1935-). A voz do passado - História Oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. 388 p.; 21 cm.
Convenções:
p. - número da página
( ) - referência de citações de outros autores
/ - simples separação antes de outra citação, sem ligação de sentido, na mesma página
[...] supressão de palavras ou frases para reduzir a citação sem perder o sentido
[ ] outros comentários ou definições do anotador das citações
Citações...
p. 11
"instigar os historiadores a se indagarem sobre o que estão fazendo e por quê. A reconstrução que fazem do passado baseia-se na autoridade de quem? E com vistas a quem ela é feita? Em suma, de quem é A voz do passado?"
p. 18
"Um dos aspectos mais polêmicos das fontes orais diz respeito a sua credibilidade. Para alguns historiadores tradicionais os depoimentos orais são tidos como fontes subjetivas por nutrirem-se da memória individual, que às vezes pode ser falível e fantasiosa. No entanto, a subjetividade é um dado real em todas as fontes históricas, sejam elas orais, escritas, ou visuais. O que interessa em história oral é saber por que o entrevistado foi seletivo, ou omisso, pois essa seletividade com certeza tem seu significado. Além disso, este século é marcado pelo avanço sem precedente nas tecnologias da comunicação, o que abalou a hegemonia do documento escrito." (prefácio de Sônia Maria de Freitas)
p. 19
"Nosso passado é nossa memória, disse Borges." (prefácio de Sônia Maria de Freitas)
p. 20
"o ameno turismo contemporâneo que excursiona pelo passado como se fosse mais um país estrangeiro para onde se evadir."
p. 23
"Quanto mais um documento fosse pessoal, local ou não-oficial, menor a probabilidade de que continuasse a existir. A própria estrutura de poder funcionava como um grande gravador, que modelava o passado a sua própria imagem."
p. 28
"O processo de escrever história muda juntamente com o conteúdo."
p. 30 a 31
"Uma coisa é saber que as ruas ou campos em torno de uma casa tinham um passado antes que ali tivesse chegado; bem diferente é ter tido conhecimento, por meio das lembranças do passado, vivas ainda na memória dos mais velhos do lugar, das intimidades amorosas por aqueles campos, dos vizinhos e casas em determinada rua, do trabalho em determinada loja."
p. 40
"fazer com que as pessoas confiassem nas próprias lembranças e interpretações do passado, em sua capacidade de colaborar para escrever a história - e confiar também em suas próprias palavras: em suma, em si mesmos."
p. 41
"Ela trata de vidas individuais - e todas as vidas são interessantes. E baseia-se na fala, e não na habilidade da escrita, muito mais exigente e restritiva."
/
"As palavras podem ser emitidas de maneira idiossincrática, mas, por isso mesmo, são mais expressivas. Elas insuflam vida na história."
p. 42
"A história local traçada a partir de um estrato social mais restrito tende a satisfazer-se com menos, a ser uma reafirmação do mito da comunidade."
p. 43
"A história não deve apenas confortar; deve apresentar um desafio, e uma compreensão que ajude no sentido da mudança."
/
"muito embora os velhos sobreviventes fossem livros ambulantes, eu não podia apenas folheá-los. Eles eram pessoas." (George Ewart Evans)
p. 49
"Ao localizar as coisas no tempo, não o fazia com datas do calendário, mas datava as coisas com acontecimentos físicos... uma inundação." (Alex Haley)
p. 50
"A memória foi rebaixada do status de autoridade pública para o de um recurso auxiliar privado. As pessoas ainda se lembram de rituais, nomes, canções, histórias, habilidades; mas agora é o documento que se mantém como autoridade final e como garantia de transmissão para o futuro."
p. 53
"Deixei de lado toda interação com os livros comuns. Se alguma vez digo coisas que ocorrem em qualquer livro, é em parte para manter o fio da narrativa de um modo menos complicado."(bispo Burnet)
p. 73
"Depois da conversa com homens de gênio e de profunda erudição, a conversa com o povo é certamente a mais instrutiva. [..] O que há para aprender com a classe média?" (Michelet)
p. 75
"não como o conhecido, mas como o conhecível. Para além, ainda há muita escuridão." (F. W. Maitland)
p. 77
"A autobiografia é a forma mais elevada e mais instrutiva em que nos defrontamos com a compreensão da vida." (Wilhelm Dilthey)
p. 88
"nem uma história fictícia, nem um relato de um passado morto; ele [o mito] é uma constatação de uma realidade maior em parte ainda viva." (Malinowski)
p. 102
"O historiador tradicional, em parte por desconfiar das teorias e preferir construir sua interpretação a partir de peças individuais de evidência colhidas onde quer que as possa localizar, é no fundo um eclético."
/
"um texto histórico baseado exclusivamente em fontes não-documentais, digamos a história de uma comunidade africana, pode ser mais superficial, menos satisfatório do que outro, extraído de documentos; mas é história do mesmo jeito." (Arthur Marwick)
p. 115
"o metalúrgico que gostaria que os nomes dos operários fossem gravados sobre aquilo que fazem ('Alguém construiu as pirâmides...') e que, isso não sendo possível, deixam aqui e ali 'um pequeno amassado (...) um erro, meu erro (...) minha assinatura neles, também'." (entrevista a Studs Terkel)
p. 137
"Enquanto os historiadores estudam os atores da história a distância, a caracterização que fazem de suas vidas, opiniões e ações sempre estará sujeita a ser descrições defeituosas, projeções da experiência e da imaginação do próprio historiador: uma forma erudita de ficção. A evidência oral, transformando os "objetos" de estudo em "sujeitos", contribui para uma história que não só é mais rica, mais viva e mais comovente, mas também mais verdadeira."
p. 150
"o processo de descarte, que constitui a contrapartida da seleção, continua pelo tempo afora. [...] Porém, o descarte inicial é, de longe, o mais drástico e violento."
p. 153 a 154
"Num mundo em que o meio ambiente está em constante mudança, a lembrança literal é extraordinariamente desimportante. Dá-se com a lembrança o mesmo que com o lance num jogo de destreza. Cada vez que o fazemos ele tem suas características peculiares." (Bartlett)
p. 158
"O verdadeiro objetivo dos sociólogos da história de vida, ou do historiador oral, deve ser revelar as fontes de viés, mais do que pretender que elas possam ser eliminadas."
p. 171
"Quanto mais uma pessoa esteja acostumada a apresentar uma imagem profissional pública, menos provável será que suas recordações pessoais sejam honestas e francas; por isso é que os políticos são testemunhas particularmente difíceis. Assim também os que, por meio da leitura, optaram por uma visão do passado que propagam profissionalmente - os historiadores e os professores. Eles podem ser as fontes mais ricas de sugestões, mas também as mais enganadoras."
p. 174
"Uma das mais profundas lições da história oral é a singularidade, tanto quanto a representatividade, de cada história de vida. Há algumas delas que são tão excepcionais que têm que ser gravadas, qualquer que seja o plano."
p. 179
"A natureza da memória coloca muitas armadilhas para os incautos [...] oferece[m] também recompensas inesperadas para um historiador que esteja preparado para apreciar a complexidade com que a realidade e o mito, o "objetivo" e o "subjetivo", se mesclam inextricavelmente em todas as percepções que o ser humano tem do mundo, individual e coletivamente."
p. 180
"a maioria das pessoas está menos interessada nos anos do calendário do que em si mesmas, e [que] não organizam suas memórias demarcadas por datas."
/
"as memórias são, regra geral, muito falíveis quanto a acontecimentos específicos e muito iluminadoras quanto ao caráter e à atmosfera, coisas em relação às quais os documentos são inadequados." (R. R. James)
p. 182
"Essa condensação na memória de dois eventos distintos em um constitui fenômeno muito comum."
p. 184
"Os boatos não sobrevivem, a menos que façam sentido para as pessoas."
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"A importância do testemunho oral pode estar, muitas vezes, não em seu apego aos fatos, mas antes em sua divergência com eles, ali onde a imaginação e o simbolismo desejam penetrar." (Alessandro Portelli)
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"aquilo que as pessoas imaginam que aconteceu, e também o que acreditam que poderia ter acontecido - sua imaginação de um passado alternativo e, pois, de um presente alternativo -, pode ser tão fundamental quanto aquilo que de fato aconteceu."
p. 185
"A construção e a narração da memória do passado, tanto coletiva quanto individual, constitui um processo social ativo que exige ao mesmo tempo engenho e arte, aprendizado com os outros e vigor imaginativo."
p. 187
"Nenhuma expressão humana, seja qual for, fica de fora de um gênero literário." (Vansina)
p. 188 a 189
"as vidas dos profetas africanos, por exemplo, podem transformar-se em mitos no prazo de três anos."
p. 190
"Acima de tudo, consciente ou inconscientemente, o mais provável é que memórias que são desabonadoras, ou positivamente perigosas, sejam tranqüilamente enterradas."
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"É, sempre queremos que isso seja contado, mas, dentro de nós, estamos tentando esquecer; bem dentro, no mais profundo da mente, do coração. É instintivo: tentar esquecer, mesmo quando estamos fazendo os outros se lembrarem. É uma contradição, mas assim é que é." (Quinto Osano)
p. 191
"para uma comunidade ameaçada, a memória deve, antes de mais nada, servir para acentuar um sentimento de identidade comum, de modo que episódios de divisão e de conflito caem no esquecimento."
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"A descoberta de distorção ou de supressão numa história de vida, uma vez mais é preciso ressaltar, não é puramente negativa. Até mesmo uma mentira é uma forma de comunicação."
p. 198
"para os historiadores, eles [bruxos e oráculos] representam o duplo desafio, profissional e pessoal, de profissões alternativas que manipulam o passado segundo regras diferentes."
p. 202
"a necessidade de maior sensibilidade histórica ao poder da emoção, do desejo, rejeição e imitação inconscientes, como parte integrante da estrutura da vida social comum e de sua transmissão de uma geração para outra."
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"não são as técnicas específicas da psicanálise na interpretação de sonhos o que mais importa, mas sim ter ela chamado a atenção para o fato de quão impregnado de simbolismo está nosso mundo consciente."
p. 204
"A própria crença original de Freud na memória total agora parece mais um desejo fantasioso do século XIX de recapturar o passado e não tem, certamente, base científica alguma, muito embora tenha tido tanta influência que a maioria das pessoas parece 'acreditar que todas as lembranças são potencialmente recuperáveis'."
p. 204 a 205
"A lição importante é aprender a estar atento àquilo que não está sendo dito, e a considerar o que significam os silêncios. Os significados mais simples são provavelmente os mais convincentes."
p. 205
"A maioria das pessoas conserva algumas lembranças que, quando recuperadas, liberam sentimentos poderosos."
p. 208
"Recordar a própria vida é fundamental para nosso sentimento de identidade."
p. 209
"O fato de cada vez mais se darem conta, não só de que as pessoas eram úteis à história, mas que também a história podia ser útil para as pessoas, foi uma das origens principais do movimento de terapia da reminiscência que se tem difundido tão surpreendentemente nos últimos anos."
p. 211
"A questão fundamental, porém, foi uma tomada de consciência cada vez maior da "enorme arrogância", como a denominou Malcolm Johnson, de profissionais - de classe e geração diferentes, e de experiência de vida diferente - ao supor que podiam definir as necessidades de seus clientes sem primeiro compreender o diagnóstico que eles mesmos faziam da própria condição."
p. 212
"fora autorizado a desenvolver experimentos no uso de imagens para estimular idosos retraídos a falar e a responder. As primeiras imagens que usou eram artísticas, mas, depois, descobriu que figuras antigas de cenas e eventos [...] eram ainda mais eficientes."
p. 213
"o Recall desencadeia um tema de conversa; e uma vez reiniciada a comunicação, as pessoas se redescobrem como seres humanos."
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"[que] a reminiscência deixe de ser um evento especial e simplesmente se torne parte da textura geral da vida". (John Adams)
[Não foram lidos os capítulos de 6 a 9, que se dedicam mais à prática da história oral do que a reflexões sobre memória]